sábado, 18 de outubro de 2008

Não há realidade. Há só representações.

George W. Bush morreu. Abatido a tiros à saída de um hotel de luxo de Chicago. Tinha pronunciado um discurso onde os inimigos do costume eram ameaçados de destruição. Com as habituais piadas sem humor e as caretas a servir de ponto de exclamação. Dois tiros. A seguir, os gritos, a confusão, uma carro blindado que arranca. Naquele dia, o Presidente tinha sido confrontado com milhares de opositores à guerra no Iraque. Nada que alarmasse um dos homens mais odiados do planeta. Caça ao homem. Prisão do suspeito ideal: um refugiado político sírio. Um Muçulmano. Um «inimigo combatente» para a maior parte dos telespectadores da Fox ou da CNN.
Não tenho acesso a fontes exclusivas de informações. Bush continua bem vivo. Continua a fazer discursos, carretas e piadas sem humor. Também não sonho com o assassínio político como modo de resolução da crise económica. Tratava-se de resumir o argumento de Death of a President (Gabriel Range, GB, 2006). O filme dá-se como documentário, com entrevistas aos protagonistas e imagens de actualidades. Só que os protagonistas são actores, algumas imagens fictícias, ou manipuladas de maneira a introduzir personagens ficcionais em documentos autênticos. Nada é real, mas tudo é realista. O realizador nem esconde a manipulação, está no centro do dispositivo. Cada sequência evidencia o modo de falsificação do seu conteúdo. Noutro contexto (breaking news por exemplo), A morte de um Presidente adquiriria um valor de verdade, enganar-nos-ia com certeza. E para o Presidente, o contexto de enunciação importa, pois morre ou continua a fazer as suas piadas sem humor.
A realidade não existe, Bush não passa de uma personagem feita de pixéis, só o (re) conheço através das imagens. Quando abandonar a Casa Branca, terei mesmo de prestar atenção à qualidade dos noticiários. É que às vezes as imagens baralham.

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